A queridinha do turismo paulista, ainda desconhecida do grande público no país, enfrenta o grande desafio de se posicionar no mercado turístico.
A temporada de navios de cruzeiro teve início em Ilhabela esta semana.
Com isso um questionamento se faz presente: Ilhabela sabe recepcionar seus visitantes de modo a aproveitar a oportunidade para fidelizar potenciais turistas e promover sua marca associada a adjetivos positivos?
Ilhabela é apenas um dos muitos destinos turísticos no Brasil, mas se tornou um dos destinos favoritos para os Paulistas por uma série de motivos, entre eles a distância em relação à capital, e outras grandes cidades no Estado. Também tem as praias mais bonitas de todo o litoral paulista incluindo as cidades também turísticas do litoral Sul como Guarujá, Praia Grande, Cananéia, Ilha Cumprida, Mongaguá e Santos. Mas entre os turistas de outras regiões do país sua popularidade é colocada em xeque, o que atesta uma limitação em seu alcance como marca no turismo brasileiro.
Nos últimos anos, Ilhabela enfrentou uma série de crises que afetou decididamente sua marca de formas distintas. Em um dos casos, Ilhabela foi alvo de uma série de reportagens na grande mídia, incluindo inserções nos principais jornalísticos da Globo News e CNN, sobre a grave crise de saneamento básico na cidade que fez com que o cheiro de esgoto estivesse presente em suas principais praias, recebendo classificações de praia imprópria para banhos (bandeira vermelha), pelo órgão responsável.
Em outra das crises, Ilhabela foi associada de forma negativa a Fernando de Noronha em uma comparação que colocava a cidade como inferior. A comparação foi feita por uma marca de repelentes para insetos em campanhas veiculadas em horário nobre da TV em grandes canais. O caso rendeu processo jurídico movido pela administração da cidade à época e um grave dano à imagem da marca da cidade.
Em questionamentos feitos a viajantes de várias origens e níveis sociais, com o objetivo de atestar a força da Marca Ilhabela entre esse público e no mercado, um dos motivos apontados como fator decisivo para a escolha de outro destino de praia em detrimento de Ilhabela, é justamente o motivo por trás da campanha difamatória promovida pela marca de repelentes: a quantidade de Borrachudos que são mosquitos minúsculos presentes, vale destacar, apenas em ambientes com baixos índices de poluentes na atmosfera. Esse é um dos motivos mais apontados, seguido de perto pelo tempo necessário para a travessia de balsa. Sendo Ilhabela uma Ilha sem ligações por terra como pontes, a balsa é a única forma de se chegar a Ilhabela se estiver dirigindo. O transporte aquaviário particular também não tem grande organização e nem é uma das formas oficiais de transporte à ilha, aumentando a dependência que o município tem em relação à empresa que opera o transporte por balsa, o que torna a chegada e saída do município um problema com tempos de fila que chegam a 8 horas.
Apesar dos problemas citados como impeditivos para o fortalecimento da marca, Ilhabela tem grandes predicados, paisagens de tirar o fôlego e gastronomia diversificada. O setor hoteleiro vem crescendo ano a ano e recebe elogios de seus hóspedes. O setor imobiliário também foi propulsor no desenvolvimento do turismo na cidade alavancando a marca Ilhabela entre os melhores lugares para uma casa na praia.
Com a pandemia, a longa quarentena enfrentada e o surgimento de novos hábitos entre os brasileiros, como o aumento do trabalho remoto, a cidade se tornou outra vez a queridinha no setor turístico entre os destinos de praia.
Ilhabela tem pouco a pouco, principalmente desde os anos 2000, valorizado sua marca e se popularizado entre públicos diferentes. O fato é que a variedade de público se deve também à falta de posicionamento e a uma falha na construção de sua marca. Ilhabela não conseguiu se solidificar em nenhum dos muitos nichos do turismo e enfrenta esse grande desafio nos próximos anos.
Saber se posicionar construindo uma marca forte que sabe explorar seus pontos fortes, gerenciando os pontos negativos em busca de soluções que minimizem seus efeitos nos números é o que pode colocar Ilhabela à frente nos próximos anos, pronta para abocanhar uma fatia cada vez maior no mercado turístico que cresce ano a ano no país. O cenário é positivo, e o enfrentamento do desafio de forma assertiva se torna imperativo.
Vincenzzo é jornalista e publicitário. Atuou em comunicação política por vários anos, e em agências de publicidade, se especializando em construção e posicionamento de marcas pessoais e corporativas.